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Nesta entrevista, Ariella Aïsha Azoulay faz uma retrospectiva da carreira que iniciou em Israel como curadora e teórica da fotografia, repercorrendo os seus arquivos fotográficos, Acto de Estado e From Palestine to Israel, e livros, até ao mais recente Potential History. A autora recorda como no início da sua actividade se confrontou com o problema do papel da fotografia na normalização da violência exercida pelo regime israelense, o que a levou a problematizar a posição do espectador-cidadão e do fotógrafo-autor, e a pensar uma outra forma de estar na fotografia, em que fotografia e dimensão cívica são objeto de particular atenção. Em The Civil Contract of Photography (2008) e em Civil Imagination (2012), salienta como fotógrafo e retratados participam no mesmo mundo no qual ocorre a fotografia e para o qual o espectador é convidado, conferindo ao « acontecimento » fotográfico uma dimensão de « contrato civil ». Isto mesmo já havia explorado no seu primeiro grande arquivo fotográfico, Acto de Estado. História Fotográfica da Ocupação dos Territórios Palestinos, 1967-2007 (2007), e desenvolveu no segundo, From Palestine to Israel. A Photographic Record of Destruction (2011). No segundo arquivo explora-se a violência matricial de 1948, aquando da « Nakba » ou catástrofe da Palestina e « Independência » de Israel; o primeiro incide sobre a prossecução desta violência, agora a título de « Ocupação ». Ensaiam-se histórias enraizadas no concreto do acontecimento fotográfico, procurando afastar os truísmos autorais, críticos, institucionais e perceptivos que acompanham a circulação de imagens e a normalização da violência. A um nível muito basilar esta violência exprime-se na atenção votada aos grupos subalternos, colonizados, despossuídos, a quem se « tirou » a fotografia. Questão sensível no caso de escravos e de refugiados, sendo patente o papel da fotografia na cristalização destas condições. É neste quadro que a autora comenta a acção de Tamara Lanier no sentido da restituição do daguerreótipo em que o seu avô é retratado como escravo, procurando libertá-lo dessa condição perante o espectador. Em Potential History. Unlearning Imperialism(2019) o quadro de análise alarga-se à sorte das comunidades e culturas africanas e americanas. Surge o imperativo de « desaprender » as disposições dos regimes Imperiais, com a sua propensão ao aniquilamento de identidades e culturas, através da sua institucionalização e substituição pelas mais diversas narrativas, a que há que contrapropor outras práticas curatoriais e histórias « potenciais ».